Onde vivem os monstros?

 




Para a luz, a escuridão é necessária. Para explorar novos horizontes, é preciso seguir caminhos diferentes. O antagonismo é parte da vida: para conhecer um sentimento, é preciso ter experimentado o seu oposto. Nem sempre é fácil: apreciar a alegria não é desconfortável quando se vivencia a tristeza. Porém, sem experimentar o véu que nubla nossos corações, é impossível apreciar o Sol de uma maneira que nos permita agradecer as sensações positivas.

É nesse antagonismo que conhecemos os monstros. Aqueles que ecoam profundamente em nosso interior com uma simples menção. Basta um assovio melancólico, e eles emergem do solo, observando-nos atentamente até nos pegar desprevenidos. Estão sempre à espreita, esperando por uma nuvem para lançar seus braços, ou até tentáculos, e nos aprisionar. São cruéis, horrendos e assustadores.

Muitas vezes, os monstros surgem de maneira despretensiosa, apenas com um olhar diante de nossa própria imagem. Em outras ocasiões, nós os alimentamos, permitindo que palavras externas, que nada acrescentam, se transformem na mais pura verdade. Nessas pequenas permissões reside a construção de crenças, aquelas que nos paralisam e fazem-nos perder o rumo. Elas são apenas convicções, que não têm existência palpável. São ideias que repetimos através de monstros ocultos, que usam a argamassa da falta de amor próprio para edificar e criar celas das quais não conseguimos escapar.

Os monstros habitam em um lugar de fácil acesso: dentro de nós mesmos. São nossa parte antagônica, o eu que sabemos existir e queremos manter escondido. Nossos monstros vibram diante de nossa queda. Sabem que somos nossos únicos inimigos, e utilizam todas as forças, em momentos de fraqueza, para nos destruirmos, enquanto eles crescem, tornando-se cada vez mais fortes e opulentos. Os monstros interiores representam nossa maior fraqueza. E os alimentamos quando deixamos de nos amar simplesmente. Para combater um monstro, é preciso, antes de tudo, conhecer sua maior fraqueza: nossa falta de amor próprio.

Diante da constatação de que muitas vezes deixamos de nos amar, a pergunta que faço é: o que temos feito para mudar essa realidade? Culpar outros ou situações não eliminará nossos monstros. Somente nós temos a capacidade de levar o Sol para onde reside a escuridão. Contudo, a questão crucial é: realmente desejamos eliminar os monstros, ou preferimos nos render a eles sem lutar? Optar pelo sofrimento é uma escolha, assim como escolher estar bem. A energia é a mesma; o que muda são as escolhas que fazemos. E você, qual é o seu monstro?

Juliano Schiavo é jornalista, escritor e professor, autor dos livros "O Menino que Semeava Histórias" e "Tapa na Cara". Instagram: @juliano.schiavo


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