Ao passar por uma das praças da minha cidade vi a frase “Só o impossível me interessa”. Já havia reparado diversas vezes nela e até me habituado com a questão poética por traz, como se tivéssemos que seguir os sonhos impossíveis, desejos inalcançáveis, devaneios habituais de quem sonha demais. Sim, ela é poética, porém nenhum um pouco prática e saudável.
A frase, que até pouco tempo atrás me inspirara de uma forma
a acreditar em ilusões, tornou-se, após essa reflexão, uma verdadeira brincadeira
de mau gosto com a nossa saúde mental, caso ela fosse levada a sério. Se é
impossível, por que se interessar? Qual o motivo de investir energia, tempo,
dedicação e cuidado em questões que sabemos que não estão sob o nosso poder ou,
ainda, dependem da vontade e desdobramento do outro?
Tenho cá comigo que o que me interessa mesmo é o possível,
mesmo que seja fruto de trabalho árduo (o que dignifica a conquista). Não vale
a pena semear sementes em terras inférteis, áridas, das quais nenhuma vida
germinará. É algo que vai contra o nosso bem-estar: investir energia naquilo
que não soma ao nosso eu, que nos drena a ponto de não mais nos sentirmos parte. Por que insistir em algo impossível?
Por que mergulharmos de corpo e alma em situações,
relacionamentos, vivências, projetos e tantas outras realizações que sabemos
não ter possibilidades de se tornarem reais? Embora o impossível seja sedutor,
qual o preço temos que pagar por algo que sabemos que não se realizará? Vale a
pena dispender energia, a qual poderia ser utilizada num bem maior ou, melhor,
no nosso próprio bem?
São questões que uma simples frase pichada no muro me
suscitou. Embora poética, ela me fez entender que seguir em direção a ilusões
nada acrescentam em nossas vidas a não ser projetos falhos e oportunidades
perdidas. Senti uma vontade tremenda de rabiscar o “im” do impossível, para que
a frase ficasse “só o possível me interessa”. Não valia a pena. Além de me
tornar um contraventor, eu tiraria a possibilidade de alguém bater os olhos ali
e pensar nessas mesmas questões me surgiram. Agora pergunto: e você, ainda tem insistido no
impossível?
PS: A reflexão não diz respeito a parar de lutar por um
mundo melhor, por parecer impossível. Na verdade, o mundo se torna melhor
quando praticamos pequenas ações em prol dos outros. Mesmo que não consigamos
trazer a paz global, só pelo fato de aprendermos a lidar com as diferenças e
respeitar as pessoas já é um grande passo para tornar o mundo um tiquinho
melhor. Portanto, não é algo impossível, pois estes pequenos gestos estão em nossas mãos.
Juliano Schiavo é escritor, jornalista e professor
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