Em 1973, dois assaltantes invadiram um banco em Estocolmo, na Suécia. Após troca de tiros com a polícia, a dupla transformou quatro pessoas em reféns por seis dias. Contrariando tudo o que se poderia imaginar, os reféns recusaram a ajuda policial e usaram seus corpos como escudos para proteger os criminosos. E o pior: ainda responsabilizaram a polícia pelo ocorrido.
Esse “estado psicológico” recebeu o nome de “síndrome de
Estocolmo”, em que a vítima passa a defender o seu opressor. Inclusive, negando
a realidade e enxergando o mundo com uma lente que vai além da sanidade: aquele
que oprime torna-se o centro do mundo. E isso não é diferente do que vivemos no
Brasil.
Em tempos de polarização tão acentuada, com um discurso de
ódio que se normaliza, não me estranha observar quem perde a noção da realidade
e passa a defender uma ideia, sem ao menos questionar, pesquisar, se informar.
A racionalidade cede espaço para um discurso raso e fácil de ser engolido:
sempre há o outro, que é perigoso. Sempre há o diferente, que precisa ser
eliminado. Sempre há o que não comunga com a mesma ideia e, portanto, não deve
ser ouvido. Do outro lado só há coisas ruins. Tapam-se os olhos e os ouvidos e
se mantém a boca aberta para vociferar contra a ideia diferente, sem ao menos
ouvi-la e refletir sobre os prós e contras. A qual preço, pergunto?
A “síndrome de Estocolmo” que vivemos no Brasil está
instalada de tal forma que as “vítimas” acabam por acreditar que os fins
justificam os meios. Mesmo que esses meios sejam violentos, preguem o ódio e
não tragam nada de bom de forma concreta. O opressor se torna uma espécie
mitológica, que tudo que fala, se torna verdade, mesmo estando em completo
choque com a realidade e trazendo caos para a vida de suas vítimas. E você, tem
vivido a sua síndrome de Estocolmo? Ou tem se permitido questionar, pesquisar,
refletir e ponderar sobre as suas decisões?
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e professor
Comentários
Postar um comentário