Quando um vírus nos permite mergulhar no nosso eu




Em tempos de quarentena, uma das mais difíceis lições a serem aprendidas é uma das que deveria ser a mais básica:  lidar consigo mesmo. É neste momento, quando desfazemos o contato com o mundo externo e, com isso, com relações sociais a que estávamos acostumados pela rotina (trabalho, estudo, confraternizações, passeios, etc.), somos pegos de surpresa.

De forma abrupta, com uma certa tonalidade de medo e incerteza a tingir o horizonte, nos deparamos com a necessidade de se reinventar e de mergulhar no nosso eu interior. Afinal, o que tem nos movido até agora? Qual o sentido que temos dado aos nossos passos? Qual a razão de sermos quem somos?

Diante da reclusão, a necessidade de se abrir interiormente. É nesse momento em que mergulhamos em muitas dúvidas, incertezas, todos soterrados pela rotina (nossa fuga diária). Que o trabalho dignifica, não há dúvida. Que o estudo enobrece, também. A questão que fica: o que somos além do que somos profissional/intelectualmente?

O que temos para abraçar quando nossa liberdade, nosso trabalho, nossa rotina, nosso dia a dia nos é surrupiado por algo invisível, porém poderoso, a ponto de fazer as nações pararem? De que forma esse vírus, que tem no corpo biológico sua manifestação, conseguiu com a sua simples menção, nos afetar no ponto de vista psicológico/emocional?

O coronavírus, frente a tudo o que está a afetar (saúde, economia, rotinas, etc.) surge como uma prova de fogo, que muitas vezes (e até conscientemente) fugimos o mais rápido possível quando se desdobra diante de nós: buscar a nossa razão de sermos quem somos. O que nos preenche? O que nos torna quem nos somos, quando destituídos do nosso significado social?

São questões que doem. Machucam emocionalmente. Porém, se olharmos pelo lado positivo, pode ser uma das mais importantes descobertas que a existência desse vírus pode nos proporcionar. Sabe qual é? O mergulho interior. O isolamento social pode servir – e sim, é doloroso, me perdoe dizer – como uma oportunidade única de se permitir se autoconhecer. E você, tem se permitido? Ou tentado fugir dos fantasmas que te assombram? Vale a pena refletir.

Juliano Schiavo é jornalista, escritor e professor
www.julianoschiavo.wix.com/livros

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