O que as diferentes pessoas
de uma cadeia produtiva pensam a respeito da importância das abelhas? Com essa
pergunta foi desenvolvido um estudo pela UFSCar-Araras, publicado na Revista Ciência,
Tecnologia & Ambiente, e que avaliou as diferentes percepções de cinco
segmentos da cadeia produtiva do maracujá.
No total, foram
entrevistadas 162 pessoas, de 30 cidades, divididas em vendedores de insumos
agrícolas, agricultores, compradores primários e secundários e consumidores
finais. O trabalho foi desenvolvido entre 2015 e 2017, durante o mestrado de
Juliano Schiavo, do Programa de Pós-graduação em Agricultura e Ambiente da
UFSCar-Araras/SP, com orientação da professora Drª Roberta Cornélio Ferreira
Nocelli e participação da professora Drª Priscilla Loiola.
“O estudo concluiu que existe diferença na percepção dos diferentes segmentos
da cadeia produtiva do maracujá quanto à importância das abelhas. Quanto mais
ligados à produção agrícola, como vendedores de insumos e agricultores, mais as
pessoas sabem sobre polinização e polinizadores, além de reconhecerem as
mamangavas como polinizadores naturais do maracujá. Já os grupos que são ligados
à venda e consumo de produtos agrícolas apresentam menor conhecimento sobre polinização
e conhecem poucas espécies de abelhas”, explicou Schiavo.
A pesquisa também apontou que, embora os agricultores saibam
da importância das mamangavas para a cultura do maracujá, eles desconhecem como
aplicar práticas amigáveis para atrair esses insetos. “Eles entendem que, sem a
mamangavas, não há polinização natural, mas eles desconhecem como atrair e
proteger essas abelhas. Inclusive, observamos que eles utilizam
neonicotinoides, agrotóxicos não autorizados na cultura do maracujá, e que tem
um efeito danoso sobre os polinizadores”, disse Schiavo.
Para a orientadora do
projeto, a professora Drª Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, o estudo mostra a
importância de programas de divulgação que ressaltem a importância das abelhas.
“Elas são responsáveis pela polinização de 1/3 das culturas utilizadas pelo
homem como alimento. Existem vários dados que apontam para um colapso em nossos
hábitos alimentares caso as abelhas diminuam; será necessário nos adaptarmos a
um novo cardápio e poderemos perder nutricionalmente, uma vez que a variedade
de alimentos pode diminuir. Desta forma, preservar as abelhas é uma questão de
sobrevivência para os seres humanos”, conclui.
Para a professora Drª Priscilla
Loiola, que integrou o estudo, foi interessante notar que o grau de
escolaridade não influenciou o conhecimento dos setores acerca deste importante
serviço ecossistêmico. “Independente de quantos anos as pessoas estiveram na
escola, o que realmente aproxima as pessoas da polinização e das abelhas, foi a
proximidade e a familiaridade destas pessoas com o assunto, e não a educação
formal. Isso indica que precisamos melhorar nossas estratégias de ensino, para
que a escola também seja um fator impactando na maior valorização dos serviços
ecossistêmicos na sociedade”, destacou.
A
POLINIZAÇÃO NO MARACUJÁ - O maracujá é nativo do Brasil e conta
com cerca de 580 espécies. Esta planta apresenta flores grandes e hermafroditas
(com sexo masculino e feminino), porém ela não se autopoliniza, sendo
necessário receber o pólen de outra flor para a formação do fruto e das
sementes. Naturalmente, quem faz a polinização das flores do maracujá são as
abelhas de grande porte, chamadas de mamangavas. Sem essas abelhas, é
necessário fazer a polinização manual, que demanda tempo e dinheiro.
A
PESQUISA – O trabalho Frequent
access to ecosystem services leads to increased understanding of pollination
pode ser conferido na Revista Ciência, Tecnologia & Ambiente, vol. 9,
e09117, disponível no link: https://bit.ly/2OTMRJs
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