O ódio que nos habita




Quando me perguntam qual o sentimento mais forte, hoje, sei que é o ódio. Estamos cercados por humanos sem humanidade. O mundo está insensível. Anestesiado. Tomado por uma falta de empatia. Falta tolerância, falta respeito, falta amor. Hoje entendo que aquele que pregou amor foi pregado na cruz e, no dias atuais, não seria diferente. A única diferença é que tudo seria filmado em tempo real, com direito a comentários e curtidas. O prego é virtual, mas o ódio é real.

Ouço, frequentemente, que vivemos uma crise moral e que o que vivenciamos é culpa da falta desses valores. Penso que o problema não é a falta de valores, mas os valores que se pregam. Inclusive, aqueles pregados pelos os que se auto-intitulam como a personificação do bem. O bem é um ponto de vista. Será que realmente temos pensado no melhor ao próximo?

Em 1955 uma mulher negra norte-americana, numa sociedade preconceituosa, foi imoral. Extremamente imoral quando confrontada com os valores morais daquela época. Essa mulher, chamada Rosa Parks, se recusou a se levantar do assento para que um branco se sentasse. Na moral vigente daquela época era imoral negros ficarem sentados, enquanto brancos ficavam em pé. O motorista chamou a polícia, que prendeu Rosa e a multou em dez dólares.

A “imoralidade” de Rosa, que foi extremamente ética (todos nós somos iguais e com os mesmos direitos e deveres) foi o estopim para se deflagrar um movimento nacional de boicote aos autocarros nos EUA. A partir daí o pastor Martin Luther King liderou a luta pelos direitos civis. E muito se conquistou.

Hoje, percebo o quanto estamos retrocedendo. Alimentados pelo discurso do ódio, simples e palatável, sei que ele vence qualquer possibilidade de tolerância. Será que perdemos a capacidade de compaixão com o próximo? Tenho medo.



Juliano Schiavo é escritor, jornalista, biólogo e mestre em Agricultura e Ambiente

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