Quando o rei fica nu



Um dos contos que lembro, quando criança, é A Roupa Nova do Rei.  Nessa história, um farsante se passa por um dos melhores alfaiates do reino. E, para tanto, diz ser capaz de tecer uma roupa que apenas os inteligentes conseguem ver. Ao tomar conhecimento deste alfaiate e de suas “habilidades”, o rei vaidoso pede ao “costureiro” que faça uma roupa dessas para ele. Sem perder tempo, o farsante exige uma série de riquezas até que, por fim, fazendo seu teatro, engana a todos.

Chega o dia em que o rei vai provar a roupa – que na verdade não existe. Vaidoso como só o rei poderia ser, ele veste a “roupa” que “apenas os inteligentes podem ver”, fingindo enxergá-la (afinal, ele era “inteligente” e, portanto, devia vê-la). Acontece que, ao sair em meio aos súditos, alguém grita que o rei está nu. E todos caem na gargalhada.

O que esse conto pode trazer de reflexão? O que ele nos alerta? Que a vaidade é um grande perigo. Alguns, com o ego nas alturas, quando caem dele têm fratura exposta.  E isso acontece, pois muitas vezes podemos nos cercar de aduladores, de falsos alfaiates, que tecem mentiras que não se sustentam e que costuram elogios vazios. Há ainda aqueles que trazem propostas que queremos ouvir, sem saber se realmente elas são aplicáveis.

Saber distinguir quem realmente elogia com o coração e quem elogia com o interesse é de fundamental importância para não se caminhar nu frente a algumas decisões. É um grande desafio aprender a lidar com o ego, pois receber um elogio, ou ouvir o que se deseja ouvir, é sempre muito bom. Porém tudo se esvai em fumaça se ali não repousar a verdade, por mais dura que seja. Falar é fácil, sustentar o que se fala é outra história. É preciso ter cuidado com os falsos alfaiates.

Juliano Schiavo é jornalista, biólogo, escritor e mestre em Agricultura e Ambiente

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