Há 30 anos nasci e me criei em Americana-SP. Lembro-me que,
quando criança, encontrava sapos na rua. Era quase toda noite que um deles
surgia, coaxando e fugindo de um cachorro ou de alguma criança. Aprendi com
minha mãe a pegá-los e soltá-los no mato, pois eles eram importantes para comer
insetos e aranhas. Hoje, faz anos que não vejo um sapo em minha rua. Os sapos
se foram.
Lembro-me também que, em diversas ruas, árvores frutíferas
vez ou outra animavam meu dia. Aprendi a gostar de jambo quando o experimentei pela
primeira vez, na Rua Anhanguera. Havia um jambeiro próximo à linha férrea. Eu
subia no muro e apanhava alguns jambos, cujos frutos tinham um perfume de
rosas. Hoje, esse jambeiro não existe mais, assim como tantas outras árvores
que fizeram parte de minha infância.
Outra constatação: naquela época, ao subir pelo Viaduto Centenário,
o que eu via era uma cidade com alguns prédios. A igreja Matriz se destacava
ali, em meio a casas e comércios. A cidade passava a sensação de ser aberta,
crescer horizontalmente, com suspiro. Hoje, os prédios rasgam os céus de Americana,
impendido, muitas vezes, de observarmos o pôr do sol.
Não sou saudosista, até por que não tenho tendência a dizer “no
meu tempo era melhor”. O meu tempo é agora. E o que me assusta é que pouco
tenho visto Americana avançar na questão ambiental. Falta política pública,
falta vontade política, falta, inclusive, educação ambiental das pessoas.
Quando falo de sapos, penso no que eles perderam de espaço
para sobreviver. Sem os sapos, por exemplo, aumenta-se o número de insetos. E
por inseto, podemos citar alguns nocivos, como os mosquitos transmissores de
diversas doenças, como febre-amarela.
Quando falo de ausência árvores, penso no quanto as ruas
estão nuas, sem o verde a adornar as calçadas. Perde-se também abrigos e
alimentação para aves, morcegos e insetos. O pouco que resta de verde é
esquecido: Gruta Dainese, margens do ribeirão Quilombo... Tem mais? E quando
falo de prédios, eu me pergunto: até quando o crescimento vertical vai ser
sustentável, pois a cidade não tem outros recursos hídricos e fica cada vez
mais adensada, com um fluxo de veículos cada vez maior
O que temo é que Americana se transforme num grande bloco de
concreto, sem verde e sem o mínimo de qualidade ambiental. É preciso preservar
e recuperar o pouco que resta. E, acima de tudo, pensar na cidade como um
grande organismo vivo. Qual o nosso papel frente a isso? Qual a nossa responsabilidade
ambiental? O que temos feito para mudar essa realidade cinza?
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