Esses dias, esparramado no sofá (com a coluna toda torta, confesso) olhei nos aplicativos de mensagens instantâneas e vi várias notificações. Também observei que eu havia mandado mensagens e, inclusive, esperava por respostas. Nada mais natural neste mundo de conversas encaminhadas pela internet.
A questão é que, na era das
conversas informatizadas, dos avisos de recebimento e de leitura de mensagens,
cresce aquela sensação de “desdém virtual”. A pessoa vê a mensagem e não a
responde na hora, ou sequer a responde. Não sabemos o que está acontecendo,
quais situações ela vivencia, se está com uma boa conexão ou, mesmo, se ela
realmente não quer responder.
Só de verificar que a pessoa está
on-line, exigimos uma atenção desmedida para obter a resposta da mensagem, nem
que seja um kkkk que nada quer dizer. Claro, queremos atenção. Existe um certo
egocentrismo em pensar que somos a coisa mais importante que existe. A questão
que fica: estamos preparados para entender que a pessoa tem o direito de não
responder? De que ela não é obrigada a dar a resposta as nossas solicitações?
Eu sei. Dói o desdém virtual. Dói
a pergunta não respondida. Machuca você não saber se aquilo que perguntou terá
uma resposta. Gera dúvidas. Incertezas. Ansiedade. A ausência de comunicação
fere e nos confunde. Queremos nos conectar de alguma forma, ter nossos anseios
atendidos. Mas será que também não estamos sendo “maníacos virtuais”, exigindo
atenção o tempo todo e, desta forma, vampirizando a outra pessoa com infinitas
mensagens?
Quando exigimos atenção
desmedida, estamos oprimindo. E ainda culpamos quem não nos responde na hora,
que nos deixa no famoso “vácuo” da conversa. Eu sei, esse “vácuo” incomoda. Temos
que entender que cada um é cada um e, por mais difícil que seja, não devemos
projetar nossas expectativas na vida alheia e nem que os outros projetem as
expectativas em nós. Somos únicos, com
direito a não querer responder solicitações. E, portanto, também não devemos exigir
respostas. Cabe o bom senso de entender que, sim, muitas vezes o outro lado não
quer se comunicar. O que fazer? Simples:
“aceite, que dói menos”.
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo –
Americana – SP
Muito pertinente e cotidiano. As relações de amizade na era virtual têm dessas coisas. Vicia querer essa nova atenção, "especial", senão exclusiva, na frente da tela... Excelente texto, como sempre, Juliano !
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