Em tempos conturbados, com a natureza sendo devastada, com o
desemprego crescente, com a violência respirando em nossos ouvidos, com o ódio
que parece ser destilado gratuitamente, inclusive por pessoas públicas, o que
temos feito para amenizar, ou mesmo mudar essas cores que só trazem dor e nos
ferem por dentro? O que temos feito para transformar o nosso eu em algo melhor
para o mundo e, inclusive, para nós mesmos?
Fico pensando nessa anestesia, que paira diante de nossos
olhos e nos embrutece. Nos transforma, em processo contrário, de límpidos diamantes
em rochas brutas. Será que estamos perdendo a capacidade de sonhar com um mundo
melhor? Será que estamos cada vez menos utópicos, a acreditar em nosso potencial
transformador?
Nos transformamos, parece, em reféns de nós mesmos. Presos a
pensamentos negativos, a se estabilizar num mesmo ponto, o ponto do comodismo. Precisamos
sair da zona de conforto e segurar a caneta da vida para pintar aquilo que é o
essencial: colorir nosso horizonte, não para estarmos felizes, que é um estado
passageiro, mas para estarmos bem – e ajudar, dentro de nossas possibilidades,
a trazer outras cores ao mundo.
Somos artistas por natureza. Dentro das possibilidades de
cores, escolhemos quais irão colorir nossos passos. Logo, somos pintores de
possibilidades ou de resistências. De tentativas ou silenciamentos. Somos responsáveis
por mudar aquilo que muda o mundo ao nosso redor: nós mesmos. Embora todos tenhamos
o mesmo céu, está em nossas possibilidades usar a caneta da vida para colorir
novos horizontes. Estamos pintando de qual forma nossos caminhos? Estamos
trazendo cores aos outros, ou esmaecendo sonhos alheios com nossa frieza e
intolerância? Em nossas mãos estão os pinceis e as tintas. Qual obra escolheremos
pintar na tela da vida?
Juliano Schiavo é jornalista, biólogo e escritor
Americana - SP
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