Quando o novo presidente dos EUA anunciou um muro fronteiriço com o México, não me assustei. Um muro físico nada mais é do que a materialização do muro invisível que paira bem diante de todos, como uma névoa imperceptível. É um muro feito de rancor, de preconceito e de ódio pelo diferente. É um muro que nasce, muitas vezes, no próprio lar. E é velado, surgindo apenas em momentos oportunos, como uma ferida mal cicatrizada.
Não me assusto mais com muros físicos. Eles são apenas
barreiras palpáveis. O grande problema é o muro que emerge no âmago das
pessoas. O muro separatista de almas, erguido com tijolos de um ódio, de uma
virulência, de um gosto pela violência, não física, mas moral. Não há diferença
entre o presidente dos EUA e aqueles que apoiam um tal deputado federal brasileiro, famoso por
suas palavras preconceituosas e repletas de rancor – e muitas vezes usando o
nome de Deus em vão para cimentar a “obra”.
Nas redes sociais, por exemplo, o que se vê é um turbilhão
de ódio. Não há diálogos, discussões sadias, troca de ideias. Existe um embate
tão forte, que amizades são desfeitas e o diálogo é posto de lado. Não há
consensos, mas sim generalizações que nada acrescentam. É difícil não se
contaminar pelo fervor das brigas virtuais, que apenas representam o que está
guardado no interior de cada um.
Num mundo em que as relações afetivas se tornaram líquidas,
segundo o sociólogo polonês recentemente falecido, Zygmunt Bauman, não é de se
estranhar que ao invés de cultivar amizades, as pessoas se preocupam o tempo
todo a estarem certas, mesmo que seus argumentos sejam vazios. O que vale não é
reconhecer um erro ou voltar atrás em uma posição. Busca-se solidificar o ódio
e desmantelar qualquer possibilidade de entendimento. É a máxima de que quem
não pensa igual, não merece respeito igual. Triste realidade que nos permeia.
Quando me perguntam o que acho de tal muro a ser construído, apenas penso:
ele sempre existiu. O verdadeiro muro não é físico. É invisível aos olhos. É
uma construção passada de geração em geração, sempre buscando algo diferente
para decretar: o mal reside ali e nós devemos nos unir contra ele, custe o que
custar. O preço todos conhecem: tem como saldo o sangue, a dor e o medo, numa
onda que só tende a se ampliar.
Em tempos de ódio, aquele que tira tijolos de seu muro
separatista é o verdadeiro construtor de um mundo um pouquinho melhor. É uma
batalha diária, uma obra sempre a exigir atenção para que se substitua os
tijolos de rancor por bons sentimentos. A questão que fica: estamos construindo
muros invisíveis de ódio ou nos permitindo criar pontes de tolerância e
respeito?
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo
www.julianoschiavo.wix.com/livros
Perfeita essa analogia filosófica...Parabéns.
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