Outro dia, caminhando pelas ruas da cidade de
Americana, me deparei com a frase “Legalize o amor” pichada num muro. Pode ser
algo banal, uma frase perdida em meio a diversas paredes coloridas. Mas não.
Era uma frase forte, impactante. A ponto de me fazer refletir. A que ponto
chegamos no qual seria necessário legalizar o amor? Sempre pensei que este
fosse um sentimento livre e que deveria ser cultivado no âmago dos corações.
Algo puro, sincero. Sem restrições.
Mas talvez a frase escondesse algo a mais. Uma cutucada
no transeunte que batesse os olhos e se pegasse a lê-la. Sim. Talvez realmente
seja necessário legalizar o amor. Principalmente em tempos obscuros, em que as
pessoas não se enxergam, apenas se encaram. Em um momento em que o respeito
cede lugar à intolerância. Em que as pessoas não veem o outro como um semelhante
que é diferente. Mas como um diferente que não lhe é semelhante.
Há quem pregue amor acima de tudo, que fale de
bondade, da necessidade de haver paz. Porém suas palavras são como sepulcros
caiados. Belas por fora, pútridas por dentro. Pois falam por falar. Não agem. Se
limitam a frases de amor ao próximo, a orações que apenas ecoam como um
monótono disco enroscado. E quando encontram alguém, que lhe é diferente, não
sabem respeitar.
É preciso desconfiar de quem prega amor e, em seus
atos, traz nítida a marca da intolerância, do desrespeito, da não aceitação do
diferente. Desconfie desta pessoa. Mas entenda que ela é limitada. Não entende
que amar, acima de tudo, é respeitar o que lhe é diferente. Amar o igual é
fácil. Difícil é reconhecer que todos têm variações. Mais complicado ainda é
aprender a respeitar o que não é semelhante.
Em tempos de intolerância, talvez o pichador esteja
– infelizmente – certo. Talvez seja necessário legislar para permitir o amor. Assim
como é necessário legislar para proibir o preconceito, a discriminação e tantas
outras questões que, se observássemos bem, não seria necessário criar leis se
houvesse apenas uma única coisa entre as pessoas: o respeito.
Juliano
Schiavo
Jornalista,
biólogo e escritor
Americana-SP
Obrigado por essa linda contribuição de sabedoria.
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