Encontros que não acontecem


Você involuntariamente sabe que as palavras que diz talvez não possam se concretizar. Não por que não queira, mas por conta dos caminhos que vão se desdobrando.  Mas, por convenções sociais, as interpreta como se houvesse em seus braços uma fina linha invisível, transformando você numa marionete. Abre um sorriso, aquele tímido, cerra os olhos ao abraçar a pessoa e diz:
— Vamos marcar alguma coisa.
Mas não marca. Não tem como marcar. O serviço. O estudo. As atribulações diárias. A ida ao banco, à padaria, ao supermercado. Tudo trouxe conforto. Mas tomou seu tempo, o tempo de se reunir com quem você gosta.
O mesmo acontece nas despedidas, tão comuns num mundo em que hoje se cria relações aqui, amanhã acolá, principalmente as profissionais.
— Venha nos visitar.
— Vou vir sim! É só aparecer uma oportunidade.
Uma oportunidade que, quando surge, não parece a mais ideal. Sempre tem algo para se correr atrás, por que estamos sempre correndo atrás de alguma coisa. É como uma fome eterna para ser preenchida. Mas jamais saciada. E tudo passa tão rápido.
Estes dias, perdido nas mudanças que a vida implica, eis que me vi diante destas frases de possíveis reencontros, que talvez nunca aconteçam. Não por que eu não queira. Mas por conta dos rumos que tomamos.
Como numa recordação, eis que me veio à cabeça uma frase – singela, curta, mas tão bonita, que me fez cruzar a memória dos acontecimentos, com a memória da leitura do livro “Os famosos e os duendes da morte”, de Ismael Caneppele. A frase? “Quando você acorda, a vida já passou”.
E realmente passou. Quando abrimos os olhos, nos encaramos no espelho, há por detrás do reflexo não um rosto, mas uma história, uma reunião de sentimentos, de conflitos, de recordações, de saudades. A gente entende isso. Sabe que, quando a gente “acorda”, a vida já passou. Mas mesmo assim, muitas vezes, os passos para seguir adiante, fazer os reencontros, não se materializam. Quem já não tentou se reunir com antigos amigos e não conseguiu? Que já tentou dar aquele pulinho no antigo serviço e, por alguns acontecimentos repentinos, teve que mudar de ideia?
E tudo passa tão rápido, assim como as nuvens, que vão se moldando com o vento, tomando novas formas. Só que com uma diferença: as nuvens passam. O que sentimos fica, transformado em pensamentos, muitas vezes, de tristeza ou de impotência frente ao que queremos fazer, mas não podemos.
Não podemos por conta dessa realidade em que vivemos, essa realidade maluca. Em que as obrigações cresceram e a vida social, tal como regra de matemática, é inversamente proporcional ao do tempo de trabalho. Quanto mais você trabalha para ter mais dinheiro, menos tem tempo para você, para reencontrar amigos de longe, rever velhos conhecidos. Mal da modernidade? Mal da humanidade? Mal de cada um que ainda não aprendeu o essencial? Ou se aprendeu, tem medo de mudar? Ou se não muda, é por conta do sistema? Realmente, não sei.  

Juliano Schiavo é jornalista, escritor e estudante de ciências biológicas

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