Enquanto
caminhava por entre o mar de pessoas que seguia pelas ruas de Americana,
interior de São Paulo, com suas faixas, seus gritos, suas máscaras, suas
palavras de indignação a tudo o que tinham guardado dentro de si, foi que me
perguntei: para que e por quê? Ainda estou digerindo o que aconteceu... Mas
tive meus motivos de estar ali.
Entre
eles? Ter observado, principalmente pelos vídeos disponibilizados por pessoas
que nunca vi nem ouvi na vida, a repressão do Estado, com sua truculência, seu
autoritarismo, sua intolerância a ouvir. Não era a polícia que estava ali, com
suas balas de borracha, sprays de pimenta, bombas de efeito moral: era o
Estado, representado pela esfera municipal, estadual e federal. O Estado que
faliu por se desprender daquilo que deveria servir: o povo.
Também
estava ali com o propósito de ir contra aquilo que acompanhei nos veículos de
comunicação: a transformação da mobilização social em mero vandalismo. Os
jornais criminalizaram um manifesto, levando por base um pequena minoria aberrante - talvez plantada por certos interessados em
denegrir a mobilização. Com sua capacidade de editar a cena que lhes
interessava passar, excluíram os sorrisos, as lágrimas, a feição de esperança
de quem caminhou. Esta velha mídia, que diz ser contra a censura, censurou a
verdade das ruas.
Torci
sim para que não houvesse bandeiras de partidos políticos em meio à caminhada. Não
é contra os partidos, mas sim contra o que se partiu na relação entre o povo e
seus representantes: a confiança. É preciso repensar não a Democracia, mas
certos mecanismos, promovendo uma verdadeira reforma eleitoral. Por que não o
fim da reeleição ininterrupta de vereadores, deputados e senadores? Transformaram
a política em carreira profissional, ao invés de transformar política em novas
ideias para mudar – para melhor – a sociedade. Reeleição sim, apenas uma vez. Mais
que isso, é ficar refém das mesmas faces.
Não
sou contra o Estado. Não sou contra a imprensa. Não sou contra os partidos
políticos. Sou contra a repressão governamental e sua intolerância em ouvir.
Sou contra a parcialidade desmedida da mídia. Sou contra o uso do público de
forma privada por políticos. E foi por isso que caminhei, que estive ao lado
dos mais de 15 mil manifestantes da minha cidade, e que se somaram aos mais de
1 milhão de pessoas em todo País no dia 20 de junho.
Sou,
acima de tudo, a favor da Democracia. Do Estado laico, aberto ao diálogo, que
não empunhe bandeiras partidárias, mas sim traga em si políticas públicas que
sirvam ao povo. Sou a favor do direito da população escolher seus
representantes, mesmo que não sejam os mais corretos sob nossa ótica, mas não
podemos cercear o direito de escolha individual.
Ainda
estou digerindo o que aconteceu. Tentando entender esta onda. Mas o que trago
em mim é uma certeza: não foi pelos R$0,20. Foi pela indignação por ver tantas
coisas erradas sem punição. Precisou de um levante para mostrar que ainda vivemos
numa Democracia e que nossos representantes estão para nos servir e não para
serem servidos. Que esta força não se adormeça.
Juliano
Schiavo é jornalista, escritor e estudante de Ciências Biológicas
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