O poço que habito



Não sei o que me motivou a escrever este texto. Talvez algo inconsciente, ou mesmo uma necessidade de colocar algumas palavras perdidas. Pouco me importa os motivos. O que me interessam são as palavras. Tenho cada vez mais pensado que, neste mundo desguarnecido de sentidos, nada me importa realmente. Acho que já abordei este assunto em outras ocasiões, ou caso contrário, o que escrevo são ecos de meus pensamentos, algo cíclico, com qual tenho lidado há um bom tempo.

Não se trata aqui de dizer que sou o que sou por ser o que me fiz. Eu ainda não me fiz, nunca me farei. Há momentos em que me olho no espelho e sinto que não me reconheço. Um traço fino correndo pela minha pele, uma mancha mais escura surgida do sol, um fio de cabelo que se solta entre meus dedos. Meu corpo físico se debilitando e, aprisionado nele, uma sensação de afogamento. Sim. É como se eu me afogasse dentro de mim, neste poço em que vivo, que por mais preenchido que seja, nunca se ergue em águas até alcançar a saída. Quanto mais preenchido este poço é, mais vazio ele fica.

A sensação de saber, conhecer, entender, me surpreender, pensar, refletir, me entregar aos pensamentos, tudo isso e muito mais, me faz entender que, realmente, tudo tem pouca importância. E por mais que eu tente me importar, sei que no fundo, bem lá no fundo, tudo vai se perder de uma hora para outra, assim como é quase certo que, após um dia, vem o outro – e isso se repetirá até quando o curso da história dos fenômenos permitir.  Afogado dentro de mim, observando a luz a esmaecer. Este é o meu poço.



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