Dreamscape

To sem tempo para ter tempo de perdê-lo. Eis aqui minha grande aflição. Por mais que tente estender meus dias, eles escorrem, escorrem, escorrem... É aquela sensação de querer abraçar o mundo todo ao mesmo tempo e se perder nos pequenos desvios de cansaço, fechando os olhos, apagando, tentanto se esquecer um pouco dessa loucura a que nos submetemos: vida.

Falta-me coragem. Falta-me loucura suficiente ao pouco de ser um "porra-louca" e mostrar o dedo do meio ao mundo, em protesto a essa vida que se resume a interpretar uma profissão, ganhar uns míseros trocados e, por fim, adoecer nos fim de semana - único momento em que é permitido ficar doente.

Sobra-me força de vontade. Ao menos para seguir passo a passo. Garfada a garfada. Suspiro a suspiro. A troco de quê? Me pergunto. E eu mesmo respondo: eu preciso, é necessário, sem dinheiro não vivemos.

Ainda sonho em ter meu próprio negócio. Ainda espero meu MTB, que nunca sai (vou me formar em outra faculdade e nada do bendito número). Ainda tento me entender. Ainda tento melhorar diariamente uma coisa que é impossível melhorar. Ainda tento esquecer, nos solavancos da canseira, que eu existo. Por que minha existência às vezes me cansa. Não no sentido de viver em si, mas de fazer parte de uma grande ilusão de um mundo que não existe, sem esperança no seu fim.

Este desabafo não é resquício de depressão. Muito menos jogado aos céus. É apenas uma ponta de iceberg emudecido que às vezes permito vagar pelo oceano da solidão. Por que todos nós temos nossos próprios tormentos diários. Nossos medos. Nossas inquietações. Sou, antes de tudo, a soma destas limitações, fundidas numa série de sensações e, por fim, emolduradas nesse delírio da vida.

Eis aqui o produto, eis aqui a forma, eis aqui a alma resumida, retalhada e retorcida: as questões que me formulo são apenas detalhes.

Comentários

  1. Somos muito mais do que o que dizemos, o que escrevemos, vamos muito além das palavras. Lacan dizia que somos atravessados pela linguagem, que ela nos dá significados, significantes, e que por ela somos aprisionados. Disse também, mesmo não tendo certeza, de que só encontramos paz no silêncio (acho que esta é muito mais uma interpretação minha do que dele). Continue vivendo, realizando. Vai chegar a sua hora de abraçar o mundo. Gostei muito de seu blog, voltarei sempre aqui.

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