Uma reflexão sobre as ninfas de cigarra


Caminhando, me deparei com uma cigarra em metamorfose. Ela estava fixa numa árvore, num lento processo de se libertar de sua antiga morada. Isso me fez pensar, durante a caminhada, no quanto a metamorfose se torna necessária no dia a dia. É preciso sempre se reinventar, abandonando lugares que não nos comportam, pessoas que não nos incluem, situações que nos aprisionam, ou seja, permitir que o fluxo da vida esteja em constante renovação, para aproveitarmos o melhor dessa nossa rápida experiência.

Pensar na cigarra me fez refletir nos processos que são vagarosos. Tudo é um aprendizado diário, caso nos permitamos observar e entender as mensagens que, muitas vezes, são nítidas. Outras, são sutis, porém nos incomodam a ponto de sabermos que há algo errado ali. Interiormente, algo clama para abandonarmos lugares ou pessoas que não mais nos fazem bem.

Uma cigarra, antes de ter suas asas, é uma ninfa. Algumas espécies vivem de 1 a 17 anos enterradas, alimentando-se da seiva das raízes. Quando estão prontas, cavam um túnel, sobem nas árvores e, pela metamorfose, sofrem a ecdise. Ou seja, uma ruptura de seu “esqueleto externo”, que as aprisionava. Quando penso nisso, lembro da importância de respeitarmos o tempo de cada um, de amadurecer e de entender que tudo pelo o que passamos é um aprendizado.

Podemos ficar presos a “cascas” que não mais nos comportam. Como também podemos rompê-las e buscar o nosso lugar ao Sol, pois todos têm o direito de estar bem. E buscar o melhor para nós é uma escolha, que requer posicionamentos, decisões, renúncias – o que gera desconforto.  Não é fácil sair de da zona de conforto, porém ao sair dela, podemos ver, na verdade, que ela era feita de dor e nós apenas estávamos anestesiados. Portanto, jamais deixe de se transformar diariamente, por você, em primeiro lugar. É um ato de carinho.

 

Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo

julianoschiavo.wix.com/livros

Comentários