Então você acorda e não tem perspectivas. É um
vazio assombroso que envolve e sufoca, num abraço anestesiado, sem nenhum pingo
de calor. Seu olhar, muitas vezes cheio de lágrimas, fica perdido a esmo. Você não
sente mais fome. Não sente vontade alguma de levantar: deseja se apagar,
eternamente. É como se uma nuvem escura pairasse adiante e tudo estivesse sem
sentido.
E quando você se dá conta, o corpo existe, mas a
essência está desvalida. O mundo, que antes tinha tantas formas e cores, está desvanecido.
E você se culpa por ter morrido em vida. Uma culpa que cresce e te abocanha,
sem pena. Machuca. Enfraquece ainda mais a luta para tentar sobreviver. Está
decretado: você pisou no grande abismo da depressão.
Então você ouve aquela voz interior: desista, dê um
fim a isso, você não merece viver. E essa voz ecoa. Atormenta. Segue você por
todos os cantos. E doí, principalmente, ao se olhar no espelho e se ver
completamente sem forças para continuar. Dói ainda mais, quando as pessoas
jogam em sua cara que “você tem tudo para ser feliz, não sei por que não reage”.
Enfim, isso é apenas uma mera descrição daquilo denominado depressão. E só quem
cai neste abismo sabe a sensação de viver uma vida sem sentido, apática.
Mas o que fazer para enfrentar essa doença
silenciosa? Talvez o grande passo seja entender que somos falíveis. Somos
humanos, cheios de incertezas, medos, imperfeições, e de dores que só nós
sabemos quais são. É preciso entender que nos cobramos muito e a todo momento
para “sermos felizes e perfeitos”, fazendo disso uma imposição para a vida.
Vale lembrar que não é o dinheiro que nos preenchem,
mas sim os laços de amizade. É preciso entender que ter depressão não é
escolha. Mas é possível vencê-la. Mesmo sem nenhuma vontade, é preciso se
preencher com coisas que fazem bem: lutar contra as vibrações negativas,
procurar ajuda especializada, fazer um trabalho voluntário, retomar a fé, entre
outros. Não é fácil. Mas o que não se deve fazer é se entregar. A vida é um
imenso aprendizado e a depressão, mesmo sendo algo ruim, pode nos mostrar o
quanto somos humanos e temos muito a aprender.
Juliano Schiavo é jornalista, escritor e biólogo
Americana – SP
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